O objetivo da agricultura moderna é produzir mais por menos, procurando preservar a sustentabilidade dos sistemas produtivos, tanto no aspecto ambiental quanto econômico. Para obtenção deste propósito é essencial que as tecnologias estejam pautadas em genética avançada, melhoria da eficácia de uso dos recursos do ambiente de produção, e manejo inteligente dos fatores redutores de produtividade.
O princípio do manejo inteligente dos fatores redutores de produtividade é talvez um dos maiores desafios na atualidade, pois mesmo com os atuais métodos de controle, as perdas de produtividade são ainda muito significativas. Estima-se que as pragas reduzem em média 18% da produção agrícola mundial, as doenças de plantas em torno de 16%, e as plantas daninhas a incrível cifra dos 34% de redução de produção. A maneira de encontrarmos tecnologia que reduza estes índices de perdas, na minha opinião, é através da integração de conhecimentos da química de controle com a biologia das plantas. É neste processo que se encaixa a biotecnologia.
Uma evolução muito grande tem ocorrido no campo da biotecnologia, mas na atualidade com certeza o que se apresenta como promissor é a edição de genes. Esta é uma ferramenta que torna maior a probabilidade de novas descobertas, pois as perspectivas do sistema é correlacionar milhares de variáveis em um complexo de interação entre elas. Isso tudo integrado gera soluções conjuntas para genética avançada, fatores redutores de produtividade, e melhor aproveitamento dos recursos do ambiente de produção.
Uma das realidades atuais resultantes desta tendência na biotecnologia é a soja chamada Xtend® nos Estados Unidos da América do Norte, que tem tido uma adoção em massa naquele país. Em 2017 foram 10 milhões de ha com soja e algodão, passando para 20 milhões de ha em 2018 e provavelmente em 2019 será de 24 milhões de ha. Esta adoção rápida pelos produtores deve-se aos múltiplos propósitos da tecnologia, ou variedades mais produtivas, manejo de pragas e plantas daninhas, que proporciona aos produtores rurais flexibilidade de uso, consistência de resultados, dentre outros aspectos. No entanto, novas tecnologias também trazem desafios, sendo que neste caso o maior desafio está pautado no uso do herbicida dicamba.
Dentre os aspectos que necessitam de atenção no
uso do herbicida dicamba destaca-se os possíveis desvios do alvo (deriva &
volatilização) para culturas vizinhas suscetíveis. Para evitar estes desvios,
avanços na forma de uso da tecnologia de aplicação no campo devem ser
implementados. Para isso, é essencial o treinamento de aplicadores e pessoas
envolvidas na recomendação do herbicida. Limpeza de equipamentos após aplicação
é fundamental. Também é essencial que o produtor conheça os limites de eficácia
da tecnologia.
Esta tecnologia está vindo para o Brasil, provavelmente em 2020 e necessita de algumas ações para que seja utilizada de forma sustentável. Temos que ser proativos e evitar os problemas antes que eles surjam. A mudança mais importante que entendo que esta tecnologia vai trazer para o Brasil é educação e treinamento ao agricultor, e isso considero positivo de uma forma geral. Por outro lado, serão necessárias pesquisas em vários estágios para as condições brasileiras. No estágio 1, temos que determinar os valores dos componentes do sistema individualmente. Por exemplo, para os Estados Unidos, o problema do Amaranthus palmeri é um aspecto que a tecnologia traz soluções, porém no Brasil nossa realidade é outra, ou seja, principalmente gramíneas. No estágio 2, teremos que determinar as interações de fatores focando todos os aspectos de uma plataforma múltipla. Ao final validar a plataforma em situação real de campo, através da chamada pesquisa em larga escala.
Autor: Prof. Dr. Pedro Jacob Christoffoleti – ESALQ/USP – área de biologia e manejo de plantas daninhas, docente do SolloAgro – Programa de Educação Continuada em Agricultura Sustentável, do Departamento de Ciência do Solo, da ESALQ.